Simplesmente Whitman

“Os poemas verdadeiros (os quais chamamos poemas, sendo meras imagens)
Os poemas de privacidade noturna, e os homens que são como eu
Este poema, tímido e oculto, que carrego sempre, e que todos os homens carregam consigo
(Saiba, de uma vez por todas, que qualquer que sejam os homens parecidos comigo, há sempre nossos vigorosos, emboscados poemas masculinos)
Pensamentos de amor, suco do amor, odor do amor, consentimento de amor, escaladores do amor, e seiva escaladora.
Braços e mãos de amor – lábios de amor – manuseio fálico do amor – seios do amor – ventre pressionados e aderidos com amor,
Terra do amor casto – vida que é somente vida depois do amor.”

– Walt Whitman, “Folhas de Relva”

 

Techos do livro “A Paixão Segundo G.H.”

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Encontra-se o livro em pdf:
http://diariodopara.diarioonline.com.br/N-104658-BAIXE+3+OBRAS+CLARICE+LISPECTOR+DISPONIVEIS+ONLINE.html

Particularmente vejo em “A Paixão Segundo G.H.” a obra prima de Lispector, um livro feroz que desde a primeira página parece te bombardear com trechos macicos que fornecem aos leitores mais atentos uma ampla capacidade de auto-reflexão. Clarice não dá alento, ela te coloca em carne viva e depois remexe com uma exatidão tão precisa que acaba sendo preciso reler o livro algumas vezes para suprir o desejo de ter realmente interiorizado todos os conceitos que nos incide.
Foi o primeiro livro que li da autora, o que me despertou uma intensa admiração pela sua forma de escrita e que em comparação com os demais livros, faz parecer que o livro inteiro é uma grande entrega. “A Paixão Segundo G.H.” pra mim foi um daqueles livros que caem em suas mãos no momento certo, te dissecam e parecem ser exatamente o remédio que a alma tanto precisava. O discurso de Clarice nesse livro em especial é tão subjetivo que se for ler apenas como um observador estará fadado a incompreensão, tem que estar disposto a se observar.

Por terem tantas passagens intensas, esse post vai ser um pouco maior que o habitual. Mas peço que tenham a paciência necessária e o carinho de costume para apreciar o que há de melhor na literatura brasileira.

Trechos:

“Se eu me confirmar e me considerar verdadeira, estarei perdida porque não saberei onde engastar meu novo modo de ser – se eu for adiante nas minhas visões fragmentárias, o mundo inteiro terá que se transformar para eu caber nele.” p. 11

“Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então não me impossibilitava de antar mas que fazia de mim um tripá estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: duas pernas. Sei que somente com as duas pernas é que posso caminhar. Mas ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável em mim mesma, e sem sequer precisar me procurar.” p.11-12

“É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo.” p.12

“O que eu era antes não me era bom. Mas era exatamente desse não-bom que eu havia organizado o melhor: a esperança. De meu próprio mal eu havia criado um bem futuro. (…) Terei que correr o sagrado risco do acaso. E substituirei o destino pela probabilidade.” p.13

“Não. Toda compreensão súbita é finalmente a revelação de uma aguda incompreensão. Todo momento de achar pe um perder-se a si próprio.” p.16

“Estou tão assustada que só poderei aceitar que me perdi se imaginar que alguém me está dando a mão.” p.17

“Por te falar eu te assustarei e te perderei? mas se eu não falar eu me perderei, e por me perder eu te perderia.” p.19

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Favoritos de Todos os Tempos

“O mais pesado dos fardos nos esmaga, nos faz dobrar sob ele, nos esmaga contra o chão. Na poesia amorosa de todos os séculos, porém, a mulher deseja receber o peso do corpo masculino. O fardo mais pesado é, portanto, ao mesmo tempo a imagem da mais intensa realização vital. Quanto mais pesado o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, e mais ela é real e verdadeira. Por outro lado, a ausência total de fardo faz com que ele voe, se distancie da terra, do ser terrestre, faz com que ele se torne semi-real, que seus movimentos sejam tão livres quanto insignificantes.”
– A Insustentável Leveza do Ser, Milan Kundera

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